

Desde 1992, a Cúpula dos Povos se firma como um território simbólico e político onde os gritos historicamente silenciados por estruturas de opressão e desigualdade ganham potência coletiva. Um espaço de convergência entre povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos, agricultores familiares, juventudes periféricas e movimentos sociais de todo o mundo, que se reúnem para afirmar: não há justiça climática sem justiça social, nem transição ecológica sem escuta ativa dos territórios. Mais do que um contraponto às Conferências das Partes (COPs) oficiais, a Cúpula dos Povos é uma resposta viva às negociações muitas vezes distantes da realidade. Enquanto autoridades internacionais debatem metas de carbono e cifras globais, as comunidades que menos contribuíram para a crise climática, mas que mais sofrem seus efeitos, constroem coletivamente uma outra narrativa: uma que se baseia em direitos, dignidade e bem viver.
Cúpula dos Povos: protagonismo popular na construção da justiça climática rumo à COP30.


A trajetória de mobilização da Cúpula dos Povos rumo à COP30, que será realizada no Brasil em novembro de 2025, em Belém do Pará, já está em pleno curso. Desde março de 2023, uma ampla articulação entre redes, movimentos, coletivos, instituições e lideranças tem promovido encontros estratégicos para fortalecer a construção de uma agenda popular e participativa, que reflita a pluralidade dos biomas, das culturas e das lutas sociais em todo o território nacional. As reuniões em Brasília e em espaços internacionais, como a COP28 em Dubai, foram marcos importantes para o desenvolvimento de uma Carta Política e de princípios comuns que orientam essa construção coletiva, centrada nos pilares da soberania dos povos, do enfrentamento ao racismo ambiental, da valorização dos saberes tradicionais e da justiça climática como horizonte de transformação.


No coração da Amazônia, esse movimento também ganha força. No dia 13 de maio, Manaus sediou mais uma importante reunião do Núcleo Amazonas da Cúpula dos Povos, coordenado por Socorro Papoula, liderança reconhecida pelos seus anos de atuação nos direitos humanos e socioambientais. O encontro reuniu lideranças indígenas, quilombolas, representantes de comunidades ribeirinhas, juventudes urbanas, movimentos feministas, organizações da sociedade civil e pastorais sociais. Foi um momento potente de escuta, acolhimento e articulação. Novos representantes e organizações foram calorosamente recebidos e já iniciam sua contribuição no processo de fortalecimento das frentes locais de mobilização.
O Núcleo Amazonas conta com o apoio de uma teia de organizações fundamentais para esse processo. Entre elas, destacam-se a AMA – Articulação de Mulheres do Amazonas, a AMB – Associação de Mulheres Brasileiras, a Rede GTA – Grupo de Trabalho Amazônico, a Resistência Amazônica, o SARES – Serviço Amazônico de Educação, Reflexão e Ação Socioambiental, a Arquidiocese de Manaus, o MAB Amazônia – Movimento dos Atingidos por Barragens, a Delegação do Amazonas da CNMA – Conferência Nacional do Meio Ambiente, a UNMP – União Nacional por Moradia Popular no Amazonas, a CMP – Central de Movimentos Populares, a Associação dos Movimentos Ambientais do Amazonas, além de muitas outras redes e coletivos comprometidos com o protagonismo amazônico.
A reunião destacou a importância da formação política e da mobilização de base como estratégias fundamentais para garantir uma participação qualificada e autônoma dos povos e territórios amazônicos na construção da Cúpula dos Povos. Também foi reafirmada a necessidade de articular ações conjuntas, promover atividades nos territórios e ampliar a comunicação popular como ferramenta de incidência e visibilidade. A Converge Amazônia esteve presente nessa articulação com compromisso renovado. Com atuação nos territórios amazônicos, com enfoque na zona Leste de Manaus, especialmente nas comunidades do Encontro das Águas, a iniciativa tem articulado o fortalecimento do protagonismo comunitário, o turismo de base comunitária, educação ambiental, economia solidária e protagonismo periférico como estratégias de defesa territorial e enfrentamento às injustiças climáticas. Agora, o Converge Amazônia também integra o Grupo de Trabalho (GT) de Mobilização, Comunicação, Captação de Recursos, Internacionalização e Logística da Cúpula dos Povos. Essa participação marca um passo importante na consolidação de uma rede de articulação mais ampla, que une o chão da floresta e das comunidades vulnerabilizadas ao debate internacional, conectando vozes locais às decisões globais com legitimidade, autonomia e saberes enraizados.


Além disso, a presença da Converge Amazônia fortalece a conexão com a recém-criada rede Converge Brasil, uma articulação nascida a partir da 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente e que reúne diversas organizações e lideranças de diferentes regiões do país. A perspectiva agora é ampliar a prospecção e mobilização de novos membros e coletivos em nível nacional, contribuindo para a construção de uma incidência coordenada, diversa e inclusiva, capaz de pautar a COP30 com a força dos territórios e a sabedoria dos povos. Nesse cenário de mobilização crescente, a Associação dos Movimentos Ambientais do Amazonas (AMA), co-fundada pelo ambientalista Joel Araújo, cidadão de Parintins, hoje superintendente do IBAMA no Amazonas, também se soma como parceira estratégica, atuando junto ao Converge Amazônia e outras iniciativas locais para ampliar a capilaridade da agenda socioambiental e fortalecer o protagonismo das populações tradicionais e periféricas da Amazônia. O fortalecimento do Núcleo Amazonas da Cúpula dos Povos representa um avanço importante na construção de uma Amazônia atuante, crítica, ativa e organizada, que não se limita a ser espectadora da COP30, mas exige ser protagonista da agenda climática internacional.


A Cúpula dos Povos não é um evento isolado. É um processo permanente de articulação, mobilização e construção de alternativas. Uma convocatória ao compromisso coletivo com a vida em todas as suas formas. Convidamos todas e todos que sonham com um mundo mais justo e sustentável a se somarem a essa jornada.
Seja por meio do seu território, da sua organização, coletivo ou como indivíduo engajado, a construção da Cúpula dos Povos é aberta, viva e essencial. Porque não basta reagir à crise climática. É preciso transformá-la em oportunidade de reconstrução, com as mãos e os saberes de quem sempre cuidou da terra, das águas e das florestas.
A Amazônia não é apenas um bioma estratégico para o clima global. Ela é casa, cultura, identidade e resistência. E agora, com cada vez mais força, também é vanguarda de uma transformação planetária que começa de baixo, com os pés no barro e os olhos voltados para o futuro.

